Elisabeth deixa o Reúne Ilhéus e quem fica diz que o movimento continua forte

Deu a bruxa no movimento?
JBO

Uma das principais lideranças do Reúne Ilhéus, Elisabeth Zorgetz revelou hoje, através das redes sociais, o seu afastamento do movimento. Um dos motivos, segundo Elisabeth, está numa condição ideológica sobre o movimento social que ela não entende mais como catalizador do grupo. Elisabeth põe um "ponto de interrogação" sobre os rumos que o movimento pode tomar a partir de agora mas reafirma que o Reúne Ilhéus é de indiscutível relevância para a sociedade, principalmente no que diz respeito aos menos favorecidos. "A importância disso ninguém poderá subtrair, nem com a minha ausência ou de qualquer outro membro do cotidiano de atividades do grupo. Podem se passar quadro dias, meses ou anos e a luta ainda será válida e justa, insubmisso de quem possa carregar as armas e a força", escreveu.

A notícia, que pode revelar um certo enfraquecimento nas bases do movimento, na prática, não é nenhuma novidade para os atuais líderes do movimento. O Jornal Bahia Online apurou que, nas últimas semanas, já existia um conflito grande entre Elisabeth e parte do grupo, que resultou, inclusive, na saída de alguns jovens do acampamento, atendendo a uma determinação dela e do namorado, Maurício Galvão, filho de Bebeto Galvão, do PSB, partido da base de sustentação do prefeito Jabes Ribeiro. A presença de Maurício nos atos do Reúne Ilhéus causava constrangimento ao governo pelo fato de ele ter sido o coordenador da Juventude da então campanha jabista, ano passado, e de ter se tornado, agora, um dos principais críticos da administração.

Durante o ato do Sete de Setembro, o JBO testemunhou uma cena que já representava os sinais da crise oficializada somente agora. Enquanto integrantes do Reúne Ilhéus desfilavam em protesto ao governo, Elisabeth, da calçada, apenas acompanhava o manifesto na pista da Soares Lopes. Atitude muito diferente de outras ocasiões, quando foi organizadora, militante e uma das principais articuladoras na organização dos atos.

Procurados pelo JBO, os atuais líderes do Reúne Ilhéus disseram que não vão transformar a saída de uma pessoa em uma polêmica pelo fato de que isso pode tirar o movimento do foco principal: a apuração sobre a concessão do transporte público em Ilhéus. Hoje a maior dificuldade dos integrantes do Reúne Ilhéus está no fato de que, apesar da existência de duas Comissões Especiais de Inquérito (CEIs) na Câmara para apurar a concessão e o valor da tarifa, eles já não sentem mais o interesse dos vereadores nesta apuração. "Parecem muito ligados às empresas. Ninguém quer, de fato, assumir esta luta", disse um dos membros, hoje, ao JBO. O grupo chega a definir a relação da oposição e da situação com as empresas como "os opostos que se atraem" e já buscam outras alternativas para garantir a razão da existência do Reúne Ilhéus: apurar as concessões, melhorar o serviço e definir um modelo mais transparente para o cálculo da tarifa.

Para minimizar um pouco o seu afastamento, Elisabeth deu como outra justificativa o fato de estar trabalhando o dia inteiro e ficar sem tempo para ser uma das comandantes do processo. Desde que foi criado, o Reúne Ilhéus desenhou o seu modelo de comando como "horizontal", sem definir quem era, de fato, o líder do movimento. Isso, em alguns momentos, gerou uma falta de controle sobre quem poderia ou não falar pelo grupo. Agora, por exemplo, mesmo com os líderes atuais evitando questionar o afastamento de Elisabeth, um membro do grupo ironizou a postura da ex-integrante ao anunciar a decisão pelas redes sociais: "liga pra ela e diz que a Globo tá aqui, que ela volta logo", disse.

De acordo com os atuais líderes, o movimento coletivo continua forte e vai resistir. Hoje, por exemplo, para além do acampamento em frente a Palácio Paranaguá, que se aproxima dos três meses, integrantes do Reúne Ilhéus permanecem ocupando o plenário da Câmara de Vereadores até que haja um acordo com o presidente Josevaldo Machado sobre os encaminhamentos das CEIs. Depois disso podem até deixar a Câmara e a porta da Prefeitura. "Basta a gente sentir que a vitória será do povo", garantiu um dos integrantes. Todos que permanecem na luta garantem: vão continuar atuando na defesa da população. "Isso só quem pode entender e repeitar é quem está aqui, dormindo no chão há 90 dias", disparam.